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Judite

Rui Catalão


“Judite” é o meu segundo texto para teatro dedicado a personagens femininas, com a sexualidade a intrometer-se em conflitos de natureza política. A peça concentra-se no encontro nocturno entre Judite (habitante da cidade sitiada de Betúlia) e Holofernes (o general assírio que lidera o exército invasor). A resolução desta história do Antigo Testamento é conhecida: Judite degola Holofernes e as forças invasoras, sem liderança, retiram-se. Mas o que se passa nessa noite, em que um homem de armas se deixa seduzir por uma viúva, é um mistério.
Judite tem sido revisitada ao longo da história da literatura, do teatro e até do cinema. Mas a sua iconografia deve-se à pintura. Artemisia Gentileschi é um caso extraordinário: usou o tema de Judite para fazer uma alusão autobiográfica à sua vida amorosa e para questionar o lugar da mulher na vida pública.
A minha “Judite” é uma paródia que estuda o poder e o teatro. Para mim, o teatro não é só uma arte de representação. É também uma arte em que apresentamos o mundo que pretendemos construir. É um estaleiro. É um laboratório. É um tubo de ensaio. É uma janela para o futuro, sabendo que habitamos uma casa que começou a ser construída há muito, muito tempo.

Rui Catalão


texto e encenação: Rui Catalão
interpretes: Ana Guiomar, Cláudia Gaiolas, Tiago Vieira e Rui Catalão
figurinos: Carlota Lagido
desenho de luz e operação: Cristóvão Cunha
direção de produção: Tânia M. Guerreiro
produção: [PI] Produções Independentes
coprodução: TNDM II

©Filipe Ferreira