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Sete cantigas para voar

Sofia Dinger

Sete cantigas para voar
Sofia Dinger


É importante não desistir de falar contigo, nem que para isso tenha que aprender a linguagem dos animais. Fazes-me desejar ir ao fundo das palavras e trazer de lá muita música: o riso. Serão várias as tentativas de chegar a ti, porque nunca se chega da primeira vez. Ou porque tudo se torna mais essencial quando temos vontade de regressar. Ou porque estes são dias para sermos livres e perguntarmos aos poetas se eles podem escrever portas, escrever chaves.
Dedico-te estes retratos enquanto pássaro.

 

Este trabalho durará cerca de ano e meio: é que a aprendizagem de um voo tende a ser lenta.
No decorrer desse período, apresentarei cada uma das canções autonomamente até perfazer as sete que tenho projectadas. Só passado esse período e com as sete canções já compostas, chegarei ao Hino da Alegria. 
Penso apresentar cada uma das canções em locais não convencionais, pouco óbvios.
E quando o Hino estiver finalmente completo, quero, então, apresentá-lo integralmente num Teatro.

 


Tenho este projecto de me transformar em pássaro: chamemos-lhe obsessão ou, para os mais comedidos, violentíssimo desejo.

Nunca o exercício da liberdade, a resistência da poesia me pareceram tão vitais. A dedicação ao “impossível” afirma-se ofício necessário: rebelião. Ando a ler “tempo do coração”, a troca de correspondência entre Ingeborg Bachmann e Paul Celan: durante anos, escavaram as palavras imperfeitas para dizerem um ao outro da profunda complexidade do que os unia sempre e apesar de. Desejavam ser o peixe brilhante um do outro.
 Não ceder à distância é o único sentido que quero seguir, trabalhar para um “cada vez mais perto”.

Tomei a decisão de construir a vida como Sinfonia composta por diferentes movimentos emocionais. Chamemos-lhe obstinação ou, para os mais comedidos, evolução natural dos acontecimentos.
Comecei por uma cantiga de embalar, depois escrevi um Requiem com lágrimas, agora preciso lançar-me a um hino da Alegria a partir de gargalhadas.  

Todos os sentimentos se podem, realmente, ouvir e até o silêncio revela as vibrações emanadas por tudo o que, algum dia, viveu. Ou se mexeu (...as respirações ofegantes do Yeats, os risos contagiantes da Maya Angelou, o último suspiro da rapariga de quem nunca ninguém decorou o nome, o rolar da pedra que se fez roda, o estalido daquele raminho de árvore cuja quebra ninguém notou...). Edison viveu obcecado com a ideia de conceber um microfone que captasse as vozes dos mortos. Elas ainda falam, nós é que não sabemos ouvi-las. E podemos sempre lançar segredos aos que virão.

O meu hino da Alegria são “sete canções para voar”.  Para cada canção, convidarei uma companhia (sejam vivos ou fantasmas). Chamemos-lhe compromisso com os sonhos (meu e do Edison) ou, para os mais comedidos, ter menos medo da morte.

 

Conceito e interpretação: Sofia Dinger
Colaboradores: Vânia Doutel Vaz, Yaw Tembe, Miguel Cardoso, Rogério de Carvalho, João Ferro Martins
Olhar Externo: Edit Kaldor
Destinatário de cartas: Ludo Abicht
Produção: Produções Independentes