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Canção para Ouvir-te Chegar

Sofia Dinger

Variação nº1

Depois do que aconteceu, não posso continuar a falar exactamente da mesma forma que falava antes de tudo ter acontecido. Não posso e não quero. Quero marcar as diferenças: testemunhar que as coisas importam. Que, às vezes, ficamos mesmo sem saber o que fazer com a voz. (…) Entre o que agora escrevo e aquilo que virá a ser lido tantos dias passarão que, quando lá chegarmos (tu, eu, o morto, a santa, os fantasmas, a amiga e a mãe), todos estaremos tão diferentes que talvez este pequeno texto seja, então, uma mentira. Não posso prometer o contrário. Sei que tenho ouvido muita música, porque me consola.  

(Como se uma canção, (meu amor), nunca se esquecesse.)

Sofia Dinger


Variação nº2


Esta canção é sobre
Tenho saudades tuas, mas às vezes não, porque quase me esqueço (de ti).
Nunca pensei que isto fosse assim.
É sobre a última vez em que nos rimos juntos,
essa última última vez em que nos rimos juntos,
essa perfeita última vez.
É sobre rirmos uma última vez juntos, mais uma vez mais uma.
Esta canção é sobre
todos aqueles fantasmas: Eu quero falar com eles. Ainda conseguimos brincar de pássaros.

 


Conceito e interpretação: Sofia Dinger
Colaboração artística: Rimah Jabr, Rodrigo Amado, Edit Kaldor
Desenho de luz: Daniel Worm,
Som: Tiago Cerqueira e Sérgio Henriques
Coprodução: Alkantara e Maria Matos Teatro Municipal

Apoio: 1SPACE/Programa Europa Criativa da UE
Residências artísticas: Forum Dança, Rivoli Teatro Municipal do Porto, Latoaria and Osso Colectivo
Um grande agradecimento a DAS Theatre (Amsterdam), João Ferro Martins, Ana Dinger e ao Ludo Abicht.  
Alkantara tem o apoio da República Portuguesa – Cultura | DGArtes


uma canção para ouvir-te chegar, verso do poema Podendo servir de posfácio, Mário Cesariny, 1981

 

João Ferro Martins